terça-feira, maio 05, 2009

CACHAÇA BAIANA DE QUALIDADE

Por qualidade, Estado investe na profissionalização dos produtores
O produtor independente Bráulio Araújo deu início a um projeto de fabricação de cachaça de alambique no interior da Bahia há seis anos. Pouco tempo depois, por falta de recursos para aquisição dos modernos equipamentos exigidos pelo empreendimento, abortou a iniciativa. Retomada em 2004, a pequena indústria da bebida já registra produção de 30 mil litros/ano, com capacidade instalada suficiente para dobrar este volume. Em breve, o empresário, que só espera a liberação do registro solicitado pelo Ministério da Fazenda, deve lançar no mercado a cachaça “Morro de São Paulo”.

Antes mesmo de chegar à mão dos consumidores, a cachaça “Morro de São Paulo” já está passando por auditorias executadas pelo Inmetro (Instituto de Metrologia) para receber um atestado de qualidade – o procedimento também é aplicado a outras oito empresas da Bahia. No Estado, 20 marcas já possuem o registro e, a partir de 2003, ganharam os mercados da França, Itália, Alemanha e Estados Unidos.

Embora auspicioso, o resultado ainda é medíocre diante da tradição baiana em cachaça de alambique. O Estado, segundo maior produtor brasileiro, atrás apenas de Minas Gerais, fabrica a bebida há 450 anos e a atividade abrange mais de 6 mil famílias – 98% das quais operam na informalidade. “A Bahia tem muitos produtores, mas em termos de qualidade precisa crescer muito”, observa o gerente de apoio à inovação tecnológica da Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia), Evandro Mazo.

A cachaça começou a ser produzida no Estado por volta de 1550, na região do Recôncavo Baiano, e, mesmo tendo participado de diversos movimentos históricos, quando as reuniões eram brindadas com a bebida, até a década de 80 a produção local nunca houvera visto nenhum investimento na infra-estrutura de fabricação tampouco posicionamento adequado no mercado brasileiro e mundial.

Cultura passada de pai para filho durante várias gerações, a produção de cachaça permaneceu estacionada no tempo em alguns locais do interior da Bahia, onde a forma de fabricação chega a ser empírica. “A produção é feita com moendas de tração animal, dorna de fermentação de madeira e alambiques de barro”, contra Araújo, que também é consultor do Sebrae Bahia.

Para profissionalizar a produção de cachaça de alambique no Estado, a entidade uniu-se ao Governo da Bahia e à ABCQ (Associação Baiana de Cachaça de Qualidade). O projeto, iniciado há quase dois anos, pretende oferecer aos produtores locais melhores condições de trabalho e acesso ao mercado consumidor. “Estamos oferecendo conhecimento aos produtores”, frisa o diretor do Sebrae – BA, Edival Passos.

Por meio da iniciativa, foram criados 10 pólos produtivos no Estado, onde já estão sendo pesquisadas até variedades de cana próprias à produção da bebida. O projeto incentiva a criação de cooperativas em cada região, que deve ter, segundo recomendação dos gestores, uma ou duas marcas para comercialização da bebida e certificação de qualidade. “Não visamos quantidade, queremos uma oferta de produtos digna dos públicos A e B, tanto no mercado interno quanto externo”, explica Araújo.

Os mercados internacionais se mostram atraentes para o produto brasileiro, mas o potencial, embora enorme, ainda é pouco explorado. Os Estados Unidos importaram no ano passado apenas 75 mil litros de cachaça. Dos 1,5 bilhão de litros produzidos pelo Brasil em 2004, somente 0,5% foram exportados, 9 milhões de litros, que devem atingir 30 milhões l em 2010.

O volume exportado no ano passado é menor em relação ao verificado em 2002, quando foram embarcados 14 milhões de litros. A diferença foi na remuneração do produto, que, antes negociado a US$ 0,60/litro, passou para US$ 1,29/litro. “Isso mostra que o produto com valor agregado é mais importante e qualidade se torna fundamental”, argumenta Passos.

Araújo acredita que a busca pela qualidade do produto não é o desafio isolado do projeto baiano. O produtor defende que a cachaça precisa de tratamentos de imagem, porque ainda está associada a uma bebida popular, ingerida com propósitos de entorpecimento. Na Europa, conta, os habitantes confundem ainda a matéria-prima com a caipirinha. “Até hoje promovemos muito mais o drink do que a própria bebida”.

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