O sertão pede socorro
Quando Graciliano Ramos escreveu “Vidas Secas”, em 1937, não imaginou que, 75 anos depois, os personagens continuariam vivos, a 255 km de Salvador. A dura e triste realidade dos moradores de Pintadas, oeste baiano, causa comoção a quem acompanha a história de fé e desespero dos trabalhadores, após perderem animais e lavouras para a estiagem que dura oito meses.
De janeiro a março deste ano, choveu em média, apenas 19 milímetros de água, quantidade considerada insuficiente para encher açudes e cisternas, para garantir a sobrevivência de animais e humanos.
Sem a água da chuva é impossível manter a plantação e alimentar o rebanho.
. Em consequência, fazendeiros e famílias inteiras, que se sustentavam da comercialização de milho, feijão, carne e leite, seguem em dificuldade, muitos migrando para outros estados, como São Paulo. Parte dos animais morreu, obrigando fazendeiros e vender os que sobraram para garantir sobrevivência da família.
. Em consequência, fazendeiros e famílias inteiras, que se sustentavam da comercialização de milho, feijão, carne e leite, seguem em dificuldade, muitos migrando para outros estados, como São Paulo. Parte dos animais morreu, obrigando fazendeiros e vender os que sobraram para garantir sobrevivência da família.
Além da fome e sede que exterminam a população animal, o
desaparecimento de lagos e represas só aumenta o desespero da população.
No Açude Municipal de Pintadas, construído em 1977, restou apenas uma
placa indicando que é proibido pescar com linha e lavar veículos.
O plantio de coco de "Seu Lili", Composto por 600 pés, situado à margem do antigo açude morreu pois as águas eram retirados, diariamente, do açude para regar cada pé. Dos 50 açudes do município, apenas seis contém água. Estes estão localizados nas comunidades de Penha, Lameiro, Laginha, Morros, Raspador e Macaco, servindo para consumo humano e animal.
O plantio de coco de "Seu Lili", Composto por 600 pés, situado à margem do antigo açude morreu pois as águas eram retirados, diariamente, do açude para regar cada pé. Dos 50 açudes do município, apenas seis contém água. Estes estão localizados nas comunidades de Penha, Lameiro, Laginha, Morros, Raspador e Macaco, servindo para consumo humano e animal.
De 10,5 mil nordestinos do município, sendo 42% da zona rural, o
fazendeiro Claudionor Ferreira Almeida se destaca pelos 40 anos
dedicados aos 48 hectares de terra da Fazenda Baixo do Lima, na
Comunidade de Mateus.
No local, antes ocupado por 50 cabeças de gado, 50 ovelhas, e alguns equinos, ficou apenas um jegue, que serve de condução, e um cachorro de companhia. Claudionor é um dos fazendeiros que remanejou o rebanho para a cidade de Alagoinhas, onde permanecem em fazendas alugadas, até que a situação se normalize em Pintadas. “Enquanto aqui não tiver chuva eu não trago o gado. Prefiro me desfazer deles do que vê morrer de fome e sede”, enfatizou.
No local, antes ocupado por 50 cabeças de gado, 50 ovelhas, e alguns equinos, ficou apenas um jegue, que serve de condução, e um cachorro de companhia. Claudionor é um dos fazendeiros que remanejou o rebanho para a cidade de Alagoinhas, onde permanecem em fazendas alugadas, até que a situação se normalize em Pintadas. “Enquanto aqui não tiver chuva eu não trago o gado. Prefiro me desfazer deles do que vê morrer de fome e sede”, enfatizou.
A atitude do fazendeiro foi tardia para a vaca “Xitafina”, uma das
mais produtivas de “Seo Claudionor”. Comprada por R$ 3,5 mil e
recém-parida, ela não aguentou a falta de água e morreu, no local onde
deu cria. “De tanta fraqueza, ela caiu e não aguentou mais levantar. O
bezerrinho ficou dias e noites circulando e berrando em volta dela”,
contou o fazendeiro, emocionado com a falta de solução. “Eu fiz o que
pude, plantei palmas para alimentar os animais, mas acabou tudo e minha
única saída foi levar eles para outro lugar. Agora tenho que vender
alguns, já que sobrevivia da ordenha e venda do leite”, explicou.
Cenário dramático - De acordo com dados da Agência Estadual de
Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), dos 33 mil animais registrados,
10.317 foram levados para postos alugados em outras regiões e 619
morreram de janeiro até o último sábado.
Segundo informações do prefeito do município, Valcyr Rios, esta é a
pior seca vivida nos últimos 40 anos. “Decretamos situação de
emergência em outubro do ano passado e vamos decretar novamente. Além
das dificuldades com a situação atual, nossa maior preocupação é com a
provável falta de chuva em setembro e outubro. Quase 100% das
residências tem cisternas, mas sem chuva não adianta. Precisamos de
verba para construir 10 açudes de grande porte”, disse o prefeito.
Após perder parte do rebanho na seca de 1993, Pedro de Bagnelo,
dono da Fazenda Lagoa do Momote, investiu na plantação de palma para alimentação de animais em épocas de
estiagem.
Além disso, ele estocou sacos de torta (tipo de ração feita com o
caroço de algodão), farelo de trigo, milho moído e feno de capim. Apesar
disso, a dificuldade continua, pois para cada 50 kg de torta são
necessários cerca de 100 litros de água para molhar e alimentar os animais e usa agua da cacimba salobra para sedentação dos animais
“Nordeste é uma terra sofrida. Não temos força de vencer, porque é
doloroso ver o rebanho se acabar de fome porque é vida. A gente come de
manhã, meio dia e de noite e os bichinhos coitados?”, lamentou.
História de sofrimento
Nascido e criado nas terras, antes dirigidas pelo pai, Claudionor
sempre demonstrou intimidade com plantações e animais. Durante a
juventude, ele seguiu o caminho dos 11 irmãos e foi tentar a vida em São
Paulo. “O problema é que não me acostumei na cidade e logo voltei para
cá”, contou.
Já em Pintadas, ele casou-se e comprou o primeiro lote de terra,
dando início à Fazenda Baixo da Lima. Três filhos nasceram, sendo um
deles deficiente físico. Aos poucos, o trabalhador foi plantando milho,
feijão e palma, e comprando animais.
Durante 33 anos, a família foi sustentada pela venda de leite,
tirado das vacas. Cerca de 120 litros de leite eram obtidos e vendidos diarimente. A
seca, que atinge o município há quase um ano, mudou o cenário da fazenda
e a rotina de vida do trabalhador. O curral, que servia de abrigo para
os bovinos, virou um espaço vazio. A família mudou-se a alguns anos para o centro do
município e a casa de cinco cômodos, permanece trancada. Apesar disso,
com a esperança de haver mudanças, Claudionor visita a fazenda
diariamente.
“Sei que aqui não tem mais nada, mesmo assim eu venho todo dia.
Antes ainda tinha os bichinhos pra me distrair, mas agora venho só pra
olhar para o tempo e lembrar dos meus animais”, contou. Das 50 cabeças
de gados, 12 morreram de fome e sede.
“Já teve dias de sentar na roça, olhar a situação e chegar em casa
com dor de cabeça por causa da seca. Gastei todo meu dinheiro nas vacas e
agora estou desse jeito. Às vezes fico sem saber o que fazer, mas peço à
Jesus que me dê força”, disse. Assim como “Seo Claudionor”,
nordestinos de outros municípios aguardam a esperança de dias melhores
“cair do céu”.
FONTE: Tribuna da Bahia em
23/04/2012 01:53
Daniela Pereira REPÓRTER
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