quarta-feira, maio 25, 2011

Familiares pedem justiça para o duplo homicídio que abalou a cidade de Pé de Serra

A irmã do jovem e a avó da jovem inconformados pelo crime brutal que abalou toda a comunidade pedeserrense.


Irmã de Fernando e avó de Vânia
exibem com saudades fotos das vítimas

A polícia ainda não tem pista do autor ou autores do crime que chocou a região do território do jacuípe, em especial, o município de Pé de Serra, palco da tragédia que vitimou os jovens Fernando de Oliveira, de 19 anos e Lucivânia Lima Lopes, de 21 anos. Os dois corpos foram encontrados dentro do porta-malas do veículo Siena, p/p JSE-1091, licença de Salvador, pertencente ao comerciante Benedito Raimundo Carneiro de Oliveira, pai de Fernando.
O carro foi encontrado totalmente queimado numa estrada vicinal que liga a principal via de acesso ao povoado de Novo Ouricuri, a 03 km do centro de Pé de Serra. O local, apesar da distância, é de pouca movimentação e além do mais, o carro foi jogado numa baixada, o que impediu a visibilidade das chamas, mesmo com a escuridão da noite fria de domingo (22).

O que aconteceu até o desaparecimento dos jovens – Fernando de Oliveira, mora com os pais na Rua Dioclécio Roque de Menezes, centro da cidade. Ele saiu da casa dos pais por volta das 21h de domingo para levar sua tia Vera Lúcia Carneiro até a residência,  a deixando na Praça da Matriz.
Até ás 22h, ele foi visto na praça passeando com o carro do pai com baixa velocidade. Está informação foi prestada ao CN pelo subcomandante da Guarda Municipal, Romiro Oliveira Vieira. “Neste momento, ele estava sozinho e dirigia o carro do pai bem devagar. Depois, não vimos mais”, contou Vieira.
No outro lado da cidade, mais precisamente na Rua João Campos, onde mora Dona Eunice Paulina de Araújo, 69 anos, Lucivânia Lima Lopes, que já estava deitada, recebia uma ligação e sem muita explicação, levantou, lavou o rosto, foi até a casa vizinha onde moram seus pais, retornou em seguida, ficou por alguns minutos com os braços cruzados encostada numa parede, depois resolveu sair sem dizer para onde ia e não mais voltou.
Quem contou está história foi à aposentada Eunice Paulina, avó de Vânia, como era conhecida Lucivânia Lopes.  Ela disse também que a neta gostava de festa, mas não tinha hábito de passar a noite fora de casa e que ficou feliz ao chegar da igreja Congregação Cristã de Brasil e encontrar a neta deitada, estranhou quando  sem muita explicação, levantou e saiu de casa.
Vizinhos contaram ao CN que viram quando, bem devagar e com os faróis apagados, o Siena passou na Rua do Sapê, sentido o Povoado da Cascalheira e em seguida retornou em alta velocidade sentido a região onde foram encontrados mortos.
Desespero dos familiares – Segundo Deise Tais Oliveira Souza, uma das irmãs de Fernando, ele também não tinha o hábito de dormir fora de casa. Falou do caráter e da personalidade do irmão, que trabalhava com o pai na loja de móveis da família e era muito querido na cidade, fato comprovado pelo CN nos depoimentos da população, que se concentrou em frente à casa de “Seu” Benedito, assim que a notícia veio a público.
Deise contou que seu pai, ao perceber que passavam das 23h e o filho não havia retornado da casa da tia, começou a ligar para seu celular, que chama bastante e ninguém atendida. Está insistência dos telefonemas aconteceram até pouco depois da meia-noite, quando a ligação passou a cair na caixa de mensagens.
“Nesta noite ninguém dormiu. Pela manhã meu pai foi no centro da cidade e conversou com as pessoas sobre o desaparecimento e a informação que ele teria sido visto até às 22h30 na Praça e depois teria desaparecido”, falou Deise, muito abalada, sendo necessária ser amparada pelo esposo André Correia. “Meu irmão gostava de namorar e era um jovem feliz e querido pro todos nos”, concluiu.

residência onde morava Vânia com a avó
Com o boato do desaparecimento de Fernando, os familiares de Vânia também se preocuparam, pois a doméstica que começava a trabalhar ás 07h, não havia dormido em casa e não tinha indo trabalhar. A jovem morou por dez anos em São Paulo com seus pais, porém, por causa da doença da mãe, seu pai Valmir Souza Gomes, construiu uma casa em Pé de Serra, vizinho da mãe e mudou-se com toda família. Isto faz alguns anos.
O fato foi comunicado a polícia, que disse aos familiares dos jovens que a queixa só poderia ser registrada após 24h de desaparecidos. Insatisfeitos com a resposta obtidas dos policiais, amigos e familiares, partiram para busca, recorrendo aos hospitais e as delegacias da região. Outro grupo foi vasculhar os açudes e as estradas do município, até que ás 16h, um carroceiro informou que havia encontrado um carro queimado e quando o cunhado André Correia, o primeiro a chegar ao local, verificou, concluiu que ali estava o carro totalmente carbonizado e para o seu desespero, percebeu os dois corpos carbonizados dentro do porta malas.
Os corpos estavam irreconhecíveis, pois foram totalmente canonizados e um dos corpos, só foi possível identificar o crânio e próximo dele, alguns ossos reduzidos em volta de cinzas. O outro, que estava junto a jante do pneu de socorro, também totalmente carbonizado, pode vê uma parte da barriga. “Só um exame de DNA para saber identificar os corpos”, falou Romiro. A quantidade de pessoas que compareceram ao local, apagou as possíveis pistas deixadas pelos criminosos. Os corpos foram encontrados ás 16, porém a polícia técnica chegou ás 20h.
Cidade sem policiamento – Pé de Serra, com uma população com pouco mais de 14 mil habitantes, conta apenas com dois policiais de plantão por dia, alternados e no restante, a exemplo de terça-feira (24), quando o CN esteve na cidade, havia apenas um policial militar no plantão e uma viatura parada, pois nos casos mais graves, o papel do PM é solicitar reforço da sede da Companhia em Riachão do Jacuípe, á 30 km. A escala da PM na cidade é de 24 por 72 horas. De acordo com uma vizinha do DPM, localizado na Praça da Matriz, quando é dia do plantão de apenas um soldado, ela costuma ver o sargento que comanda a cidade ficar um pouco durante as noites.
A delegacia esta há 30 dias fechada e o caso se agravou quando os dois agentes lotados na cidade, um foi transferido para Feira de Santana e o outro entrou de férias.  A informação que realmente a Delegacia se encontrava fechada foi confirmada pelo Delegado Carlos José Baqueiro, titular da Delegacia de Riachão do Jacuípe e que também responde, além de Pé de Serra, pelo município de Candeal.
“A gente aqui fica monitorando pelo telefone. Se tiver um caso grande, somos obrigados, mesmo sem condições, ia até a cidade. Nós aqui em Riachão do Jacuípe estamos sem viatura, pois a nossa capotou quando retorna da micareta de Feira de Santana e estamos usando a de Candeal, que não há a menor condição de uso, basta dizer que os pneus estão com arames para fora”, desabafou o delegado.
Com 15 anos de profissão, José Baqueiro falou da falta de agentes na região, sendo obrigado a solicitar a Polícia Militar quando há necessidade de abrir as celas para retirar um preso ou mesmo ter que levar para o hospital ou outra necessidade. “Estou almoçando quentinha aqui na Delegacia para dar conta de tanto trabalho”, concluiu.
Outro problema que vive a delegacia de Riachão do Jacuípe, a principal do território do sisal, é a superlotação, pois as celas com capacidade para 04 presos estão com 12. “Estamos reservando para dormir. Quando um dorme ou outro fica em pé”, falou o preso que se identificou com Sapo e responde por tráfico de droga.
O que já foi feito até aqui – Insistindo em dizer que não tem condições de realizar uma investigação rápida, o Delegado Baqueiro trabalhar duas hipóteses para o duplo homicídio. Ele acha que pode ser roubo e pode também ser um crime passional.
Na tarde de terça-feira uma pessoa foi ouvida pela polícia, que confirmou a história que Fernando foi visto domingo à noite na Praça e nada, além disto. Ele sabe também que Vânia tinha um ex-namorado em Capela do Alto Alegre e que o mesmo passou a noite de domingo em uma festa e chegou em casa na manhã de segunda-feira.
Ex-namorado problemático – Uma vizinha da jovem, que também pediu para não ser identificada, falou que ela realmente tinha um namorado que não aceitava o rompimento do namoro. Ela disse que uma pessoa próxima tinha visto este rapaz na cidade na noite de sábado.
Sem dizer o nome, a avó de Vânia, Dona Eunice, falou que a jovem recebia constantes ligações deste suposto namorado e nas conversas percebia que ele questionava se ela estava em casa, ou coisas assim que gerava ciúmes. A aposentada falou que nunca havia escutado gestos de carinho durante estas ligações.
Povo como medo – O medo vem tomando conta do povo de Pé de Serra. Numa período de 18 meses, houve dez casos de homicídio e na maioria deles, sem autoria reconhecida. Um policial militar da reserva, que pediu para não ser identificado, falou que é assustador o número de usuários e traficantes de drogas atuando no município, inclusive na zona rural. “Quem me lembro, foram mortos nos últimos meses o Josivam, Gilvan, Josse, Tati, um corpo foi encontrado na região do Caldeirão do Negro, tivemos o Gerôncio e Roque de Luiz Crente. Sábado teve uma pessoa baleada no Povoado do Santo Agostinho. Isto sem falar dos roubos de motos e de gado. A violência aqui esta maior que o Rio de Janeiro”, concluiu.
O ex-vereador Antônio Pereira Gomes, que exerceu a função por três mandatos, conhecido por Toinho Dentista, disse que o povo não pode sair mais de casa, principalmente à noite. Nos dias das feiras, o marido vem e a mulher ou um filho, fica tomando conta da casa na zona rural.
Luiz Carlos, um dos vizinhos da família de Fernando, confirmou a boa personalidade do rapaz e está ansioso com a situação e, ao falar para o CN, disse que a polícia tem que dar uma resposta, pois estes crimes não podem ficar impunes.
Lucineide da Silva Gonçalves, 35 anos, prima de Vânia, mora em Feira de Santana e disse esta impressionada com a violência na cidade de Pé de Serra. Levando em consideração a população dos dois municípios, Lucineide disse que a pequena e pacata Pé de Serra esta mais violenta que a segunda maior cidade do estado.
Valdir Vieira Souza, 35 anos, tio de Vânia, estava inconsolável com a morte da sobrinha. Usando da força do CN, Vieira disse que vai lutar junto à justiça para este caso ser esclarecido.
Manifestação – A professora Tânia Maria, que ensina na escola Pedro Falconere Rios, onde Fernando estudou esta muito revoltada com toda esta violência em Pé de Serra e está organizando, juntamente com um grupo de pessoas, uma manifestação pelas ruas da cidade nesta quarta-feira ás 15h, saindo de frente à casa dos pais do jovem morto. “O governo do estado tem que interferir, pois estamos vivendo numa terra sem lei. Vamos para as ruas protestar”, falou.


Por: Valdemí de Assis / fotos: Raimundo Mascarenhas
Calila Noticias

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